O processo pode ser um aliado na redução de áreas afetadas por poluentes diversos
Os processos biotecnológicos têm ganhado cada
vez mais destaque no meio científico. Em especial, está a biorremediação. A
biorremediação ou biotecnologia do controle da poluição, como também é
conhecida, é um processo em que os
organismos vivos são utilizados para remover ou reduzir a concentração de
poluente no ambiente em que estão inseridos. Essa técnica é recomendada
pela comunidade científica, já que não causa poluição secundária, ou causa
menos.
O processo em si
Cada processo da biorremediação é particular. Na
maioria das vezes, são necessárias adequação e otimização específicas para a
aplicação nos diferentes locais afetados. Além disso, é preciso que sempre
haja uma análise dos parâmetros físicos, químicos e biológicos.
A biorremediação pode ser implantada em águas
superficiais, subterrâneas, solos e afluentes industriais. Alguns fatores podem
influenciar na biodegradação: entre eles estão os fatores físicos e químicos
(como o pH e a salinidade), fatores extrínsecos (temperatura e umidade) e fatores
relacionados aos poluentes.
A implementação do processo
A implementação da biorremediação depende de quatro elementos. São eles,
respectivamente, a avaliação da natureza
do composto, a caracterização da contaminação, o planejamento do tipo de
biorremediação e, por fim, a decisão por biorremediação in situ ou ex situ
– o termo in
situ ou on-site representa o processo de biorremediação
realizado no próprio ambiente contaminado, e ex situ é a intervenção
realizada fora da região de contaminação.
![]() |
Charge autores: Daniel Ribeiro, Ana Catarina Ferreira, Alexandra Nobre (Fonte: Banco de Imagens - Casa das Ciências) |
Entrevista
Para saber
mais sobre o processo de biorremediação, confira a entrevista com Eduardo Muniz
Santana Bastos, farmacêutico/bioquímico, mestre em Biotecnologia e doutor em
Biotecnologia em saúde pela Universidade Federal da Bahia.
Impacto: Existe
algum ponto negativo da biorremediação? Se sim, quais?
Eduardo: Sim. É evidente que em todos os processos
existam pontos positivos, assim como pontos negativos ou limitantes. Em
particular, no processo de biorremediação para auxiliar na recuperação
de áreas ambientais afetadas por poluentes, quando se emprega a adição de
nutrientes, oxigênio e outros com associação do controle de pH, umidade e
temperatura (bioestimulação) e/ou no acréscimo de organismos que não existam no
ambiente natural contaminado (bioaumentação) poderá ser um ponto negativo, pois
pode acarretar a redução ou perda de predadores importantes para a retirada de
micro-organismos exóticos utilizados na ciclagem dos polímeros que constituem
os produtos contaminantes do meio em questão e consequentemente poderá
ocasionar um desequilíbrio no ecossistema.
Impacto: Essa
técnica pode ser utilizada em todos os casos?
Eduardo: Sim. O processo de degradação de poluentes em
ambientes naturais transformando-os em produtos com estrutura molecular
menos agressiva ao meio ou promovendo sua mineralização, no caso de metais
pesados por micro-organismos, sempre estará acontecendo de forma natural e
contínua em ambientes como solo e água. No entanto, a depender do tipo,
quantidade e exposição destes contaminantes, torna-se necessário a utilização
de metodologias técnica-científicas no que norteia o processo biorremediação.
Impacto: Em quanto
tempo os efeitos da biorremediação podem ser percebidos?
Eduardo: A biorremediação propriamente dita restringe ao
ato de remediar ambientes específicos contaminados por produtos externos.
Seguindo este conhecimento, não podemos determinar com precisão a ação imediata
dos micro-organismos e/ou plantas, pois todos os organismos viáveis têm sua
ação atrelada às condições pertinentes ao local afetado. Muitas tecnologias
estão sendo empregadas para otimizar a ação biorremediadora, como por exemplo o
desenvolvimento genético no intuito de realizar possíveis modificações de genes
para expressão de enzimas como esterases e lipases, que contribuem para
intensificar a ação atenuadora de ambientes poluídos.
Impacto: Para que
haja a biorremediação, é necessário que os micro-organismos sejam geneticamente
modificados? Se sim, isso ocorre em todos os casos?
Eduardo: Não, o principal
processo utilizado na biorremediação é a atenuação natural. Neste caso, em
particular, utiliza-se processos de adaptação da própria microbiota nativa ou
cultivados para degradar
ou imobilizar contaminantes no ambiente que se
deseja remediar. A biorremediação acontece pelo simples fato dos microrganismos
utilizarem o processo metabólico de compostos orgânicos complexos como única
fonte de carbono, gerando posteriormente reduzidas concentrações de compostos
contaminantes ao longo do tempo.
Eduardo: Quando se inicia um estudo de um ambiente contaminado e que precisa da
biorremediação, é necessário primeiramente realizar um estudo da delineação
exata e pormenorizada de um terreno, o tipo de ambiente contaminado, os agentes
poluidores presentes neste meio, principais plantas e microorganismos presentes
(nativos) para iniciar uma avaliação de custo médio de cada processo a ser
utilizado. Embora muitas empresas de países desenvolvidos realizem estudos
específicos e estratégicos de uma possível contaminação de ambientes
tenham aproximadamente valores
pré-estabelecidos para o uso da biorremediação.