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2 anos sem o Horário de Verão: quais as consequências da mudança?
Atualmente diversas regiões do país sofrem com a estiagem e o projeto volta ao centro do debate público em 2021

Por Monique Marquesini
O horário de verão é uma prática realizada para garantir o maior aproveitamento da luz solar e dar folga ao sistema hidroenergético. A medida foi instituída no Brasil pela primeira vez durante o mandato de Getúlio Vargas em 1931 e desde 1985, foi adotada em todos os anos seguintes. Porém, em 2019, o presidente Jair Bolsonaro decretou o fim do horário, sendo o primeiro ano sem o sistema em 34 anos.
Os estados que adotavam esse modelo de esticar o dia eram São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.

Qual o contexto da retirada?
O Brasil enfrenta instabilidade no regime de chuvas desde 2019 e diante dessa condição a situação hídrica e energética do país vem se agravando. As áreas do país mais afetadas são as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. De acordo com a Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (Creg), essas regiões do país estão passando pela pior seca já vista em 91 anos.
Os dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), evidenciam que o subsistema Sudeste e Centro-Oeste em 2021 tem apenas 17,97% de sua capacidade de armazenamento. E o subsistema da região Sul, conta com 31,63% de sua capacidade. Diante desses indicadores, é possível afirmar que essas regiões já estão enfrentando uma crise hídrica.
Esse cenário impacta diretamente na fonte de energia já que 65% da matriz energética do Brasil depende das hidrelétricas.
A estudante de Engenharia Ambiental e pesquisadora Bianca Sereda Jacinto comenta sobre as consequências dessa crise.
“Uma série de providências deveriam ter sido tomadas, sabendo que isso afeta o clima, e por sua vez, a dinâmica de chuvas no país. A crise hídrica e energética pode afetar as populações mais pobres, que já possuem baixo consumo, e passam a ter a tarifa da prestação de serviço mais cara. Gera-se um problema em cascata, o qual estamos enfrentando agora.”
Quais são as medidas tomadas pelo governo em meio à crise?
O primeiro plano proposto pelo Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, é um Programa de Bonificação para aqueles que economizarem entre 10% a 20% do volume de energia.
A segunda medida decretada é que os órgãos públicos devem reduzir o consumo de energia entre 10% a 20%.E o terceiro plano em vigor. E o terceiro plano é a criação de uma nova bandeira tarifária para as contas de luz - “a bandeira tarifária de escassez hídrica”. A tarifa aumenta o valor da conta de energia em 49,63% em relação à bandeira vermelha, e fica em vigor de setembro de 2021 a abril de 2022.
O atraso nos planos do governo federal, colocam o sistema energético e até o fornecimento de água em risco de sobrecarga, podendo futuramente causar apagões e racionamento.
Em entrevista à BBC News Brasil, o professor de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) Nivalde de Castro afirma: "Atualmente, estamos enfrentando problemas para atender a demanda de energia elétrica justamente na hora em que escurece".

Estudos do Instituto Clima e Sociedade (ICS) indicam que durante o horário de verão cerca de 2 a 3% da energia pode ser economizada. E para Castro, mesmo que pareça ser pouca economia, na verdade faz toda a diferença.
"Diante da crise hidrológica deste ano, o horário de verão faz todo sentido, porque ele evita um consumo a mais, do que numa situação em que não haja horário de verão”, declara o especialista.
Revisão e Edição: Maria Eduarda Vieira