
Fulano
A silenciosa morte dos urubus pelo mundo
Os urubus correm risco de extinção em alguns locais do mundo – E isso é um problema muito sério

Por Adriano Arrigo
Dois animais muito peculiares estão na lista de extinção da natureza. O risco de que eles sumam da Terra fez com que os defensores da vida animal emitissem um sinal de alerta. Um é considerado fofinho. O outro assusta muita gente, mas é muito importante para a vida na Terra.
Saiba quais são eles!
Procurando Nemo enquanto ele ainda existe….
Em 2016, o lançamento da animação Procurando Dory voltou a preocupar cientistas e ativistas da vida marinha. Eles alegam que em 2001, ano em que o primeiro filme da série (Procurando Nemo) foi lançado, houve um aumento de 40% nas vendas em petshops do peixe do gênero Amphiprion. Esse peixinho laranja é mais conhecido como peixe palhaço, e no filme é representado por Nemo e o seu pai, Marlin.
Para chegarem aos petshops, os animais marinhos são colhidos na Indonésia e Filipinas de maneira insustentável levando ao rápido declínio de suas populações. Conheça mais sobre o assunto clicando aqui.

Vilão nos desenhos, herói na natureza
Do fundo do mar para os céus, os urubus também estão em perigo e desaparecendo desde o início dos anos 90. Porém, diferente dos peixes palhaços, não costumam despertar muita compaixão. E não ajuda muito sua maior fama em desenhos animados como vilão do Pica-Pau, o Zeca Urubu.

“Espécies mais carismáticas recebem muito mais atenção que espécies com menos apelo. Mamíferos e aves, por exemplo, mais coloridos e “fofinhos”, têm a atenção da mídia e do público, enquanto anfíbios e insetos passam desapercebidos, embora muitos estejam em situação bastante crítica”, alerta o professor Marco Aurélio Pizo, integrante do departamento de Zoologia da Unesp de Rio Claro.
Uma pesquisa recente da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, colocou o recorrente problema dos urubus novamente em foco. A pesquisa traz dados alarmantes sobre essas aves que estão entre as mais ameaçadas dentre todos os pássaros existentes, em especial, as famílias que vivem nos continentes africano, asiático e europeu.

Nesses continentes, os urubus têm uma aparência um pouco diferente dos que encontramos por aqui, pois pertencem a famílias genealógicas diferentes. Por lá, só existem a família dos abutres.

“Esta pesquisa e muitas outras focam principalmente urubus (ou abutres) que vivem principalmente na África, Europa e Ásia. Eles apontam ainda o Condor da Califórnia, da América do Norte, que sofreu com este problema também. No caso dos nossos urubus, estes não tem sofrido com estes problemas”, explica o biólogo Weber Galvão Novaes, especialista em população de urubus encontrados no Brasil, como o urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus) e urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura).
As aves desses continentes correm sérios riscos de serem extintas por estarem se alimentado de carcaças de animais contaminadas por substâncias tóxicas. A substância mais perigosa encontrada nessas carcaças é o Diclofenaco, uma droga anti-inflamatória muito barata administrada em gado de corte.

Após a substância ser introduzida no continente asiático no inicio do século passado, o número de urubus diminuiu em até 99,9 % em apenas 15 anos. Isso porque o urubu não tem capacidade de excretar a droga presente nas carcaças de gado. Aos poucos, o Diclofenaco começa a cristaliza-se dentro do organismo do urubu, causando-lhe desidratação, falência renal e, por fim, sua morte.

Perigo para o ser humano e desequilíbrio para o meio ambiente
Sem os urubus, as carcaças dos animais ficam expostas no meio ambiente. Aurélio alerta que o maior problema nisso é o aumento de animais que podem transmitir doenças. “Para os humanos, isso significaria o aumento de espécies indesejáveis e potencialmente transmissoras de doenças, como moscas e roedores”, comenta o professor.
Além de servirem como “faxineiros” do meio ambiente, os urubus são de extrema importância para o meio em que vivem. “Eles desempenham papel fundamental na cadeia alimentar, removendo grandes quantidades de animais mortos da natureza diariamente. Já existem estudos que apontam para estes prejuízos, tanto naturais, como disseminação de doenças, e até financeiros”, afirma também Weber.
Documentário mostra a extinção dos abutres na Índia
O minidocumentário O Desaparecimento dos Abutres (2007, 17 minutos, aproximadamente) foi feito pelo produtor de filmes e ambientalista Mike Pandey para mostrar em detalhes o que o Diclofenaco fez com a população de urubus na Índia.
Atualização: O vídeo foi removido!