
Fulano
Declaração de Florianópolis contra a caça das baleias volta a afirmar a importância desses animais
67ª reunião da Comissão Internacional Baleeira foi marcada pela sugestão do Japão de realizar ‘caça sustentável’

Por Letícia Alves
No dia 10 de setembro de 2018, foi realizado, em Florianópolis, o 67° encontro da Comissão Baleeira Internacional (IWC) para discutir temas como poluição sonora submarina, choques com navios, mudanças climáticas e também o fim da moratória contra à caça das Baleias feita há 30 anos.
Comissão Baleeira Internacional
A Comissão Baleeira Internacional (CBI) surgiu no ano de 1946 em Washington DC com o intuito de regularizar as atividades baleeiras ao redor do mundo para, assim, conservar as populações do animal.
Todas as ações tomadas pela Comissão visam a proteção das espécies, a regularização de áreas de caça, colocação de limites em quantidade e tamanho de baleias que podem ser caçadas, interdição de locais e proibição da caça de espécies em amamentação e/ou com suas crias.
Os dados que a CBI obtém vão para um banco de dados onde são feitos relatórios, registros estatísticos e biológicos das espécies.
Não apenas com objetivo de defender as baleias, a Comissão também financia, coordena e encoraja programas de investigação com grandes espécies do animal, fomentando a pesquisa na área e produzindo estudos com temática baleeira.
Sobre a 67ª reunião da Comissão Internacional Baleeira

Reunindo países adeptos da caça, como Japão, Noruega e Islândia, e os que são contrários à morte das baleias, como Brasil, Austrália e União Européia, o evento contou com a presença de 89 países.
Segundo dados da Comissão Baleeira, o Japão captura entre 300 a 400 baleias por ano. Afirmando que a caça é para fins científicos, o país defendeu, neste ano, uma possível ‘caça sustentável’.
Segundo Leandra Gonçalves, pesquisadora do Instituto Oceanográfico da USP (IOUSP), todos os anos o governo japonês faz o uso de estratégias para derrubar a moratória contra a caça.
Este ano, a estratégia foi a sugestão da caça sustentável, ou seja, permitir algumas cotas de baleias através de estudos científicos.
Para Leandra, o principal problema é o controle dessa atividade, pois as baleias são animais de topo de cadeia, com uma taxa de reprodução lenta, assim como muitos mamíferos, e com uma estimativa populacional incerta.
Ela conta que as baleias são importantes no ecossistema, não apenas em relação à sua quantidade e estimativa populacional, mas, também, por fazerem parte da provisão de diversos serviços ecossistêmicos, da regulação climática e da ciclagem de nutrientes existentes nos oceanos.
A longo prazo, os efeitos de uma extinção ainda são incertos. Durante o período em que a caça era permitida, houve um declínio e desaparecimento de diversas espécies.

O Brasil e as baleias
O Brasil já mostrou que não é necessário matar baleias para realização de pesquisa científica. Desde de 1986, quando a moratória da caça comercial foi implantada, o país não permite a morte de baleias para fins comerciais em suas 200 milhas náuticas, território marinho de soberania nacional.
O Brasil realiza pesquisa científica em baleias com qualidade sem a necessidade de matá-las.
“Há sim a necessidade de preservar as populações pras futuras gerações, mas também tem a necessidade de manter o equilíbrio do ecossistema e do planeta de uma forma saudável”, Leandra pontua.
Segundo a Portaria n° 117 de 26 de dezembro de de 1996, existem regras relativas à prevenção do molestamento de Cetáceos (baleias) encontrados em áreas brasileiras. Essas regras aplicam-se inclusive na atividade de turismo, para que o ambiente e os animais não sejam afetados por embarcações e pessoas.
O turismo de observação das baleias movimenta cerca 13 milhões de pessoas ao ano e gera uma receita de US$ 2 bilhões na economia mundial de acordo com o Ministério do Turismo. Portanto é essencial que o bem estar dos animais seja respeitado.
Declaração de Florianópolis
Durante o evento realizado no país, o Brasil se mostrou resistente em relação à moratória da caça às baleias e conservação marinha. Leandra afirmou que “ele foi o proponente articulador junto com outros países da ‘Declaração de Florianópolis’, que afirma o interesse dos países conservacionistas em controlar os impactos de origem antrópica em baleias e golfinhos”.

Esta Declaração reafirmava a importância da preservação dos cetáceos e dos benefícios da criação de unidades de conservação costeiras e marinhas. Ela foi aprovada com 40 votos a favor e 27 contra, com 4 abstenções. Alguns países que foram contra já praticam a caça abertamente, como é o caso da Islândia e da Noruega.
Leandra, por fim, afirma que o Brasil é líder nessa temática de conservação. Segundo ela “A gente sempre pode fazer mais, criar mais unidades de conservação marinhas, pensar em estratégias para reduzir o impactos das mudanças climáticas, mas o Brasil tem uma posição realmente conservacionista e de vanguarda no cenário da Comissão Internacional Baleeira”.
Editora: Beatriz Bethlem